sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

No interior

Nunca estive num lugar tão quente.Sério, lá é muito quente.Uns 40 graus, ou mais.Eu derretia aos poucos.Tomei tanto sorvete pra tentar refrescar, mas não foi o bastante.Mesclava picolés e sorvetes todo o tempo.A cidade é pequena, tem um estilo bem roça, mas não está longe de algumas tecnologias da civilização.JustificarMinha tia avó nunca esteve tão chata.Na verdade, fomos para aquele inferno visitá-la.E o nome da cidade?Novo Brasil.Fica perto do Mato Grosso.Os mosquitos lá são mais teimosos e resistentes.A gente espanta eles, e é o mesmo que não fazer nada.Ódio.Lá as pessoas te comprimentam sem olhar nos teus olhos.Te comprimentam olhando pro céu, para os lados, pra qualquer lugar, menos pra você.
Eles não dão nome aos cachorros.Haviam dois lá, perguntei o nome deles para a minha tia, e ela disse que chamavam eles de "Tio".Eu fiquei pasmo.Enfim, o mais legal de tudo, é que quando alguém morre eles anunciam, numa espécie de autofalante.Geral ouve, sempre com uma música fúnebre.Achei essa cidade digna de cenário de um filme.Na boa.Lá tudo derrete, os plásticos, as casas, VOCÊ.
As pessoas são cheias de costumes idiotas, são muito conservadoras, do tipo de não conversarem com pessoas do sexo oposto.Estranho né?Na verdade, se comprimentam.A minha tia reparava tudo e depois vinha me chamar atenção."Você não levantou pra comprimentar as visitas.Você não conversou com os rapazes.Você é muito fechado.Você precisa engordar".
Nossa!Foi péssimo.Mas no mais, só a imagem daquela cidade, já me inspirou em algo.Só estou esperando uma oportunidade pra usar essa experiência, para uma futura arte.
Eu creio que não vou pisar meus pés lá tão cedo.Deus me livre.Juntou tudo, o calor, as pessoas, a minha tia, no final ficou tudo indigesto.Q uando foi pra ir embora, eu quase não pude conter minha alegria.Ar condicionado, estradas, belas paisagens.Graças a Deus chegamos bem, graças a Deus aquele inferno ficou pra trás.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Medonho - Daqui Você Não Sai


Mais um dia se passou na Floresta das Sombras. Medonho e todos os troncos mal assombrados adormeceram no esconderijo, debaixo do solo úmido e repleto de seres pegajosos. Não havia nenhum sinal de vida lá fora, a não ser uma escuridão sufocante, que nunca passava. As Ilusões de Midlon tinham ido embora, porém deixaram no ar uma sensação de suspense e terror. Uma densa névoa pairava no ar. Todas as árvores balançavam levemente seus galhos, com o toque frio do vento que soprava sem parar. Todos dormiam ainda. Medonho se arriscou ir mais além, e começou a flutuar em direção ao Lago Gélido. As águas não se mechiam, parecia um grande espelho, refletindo a solitária lua cheia. Não haviam pensamentos em sua mente, apenas admirava tudo, com um certo espanto nos olhos. Era tudo real demais. Definitivamente Medonho estava convicto de que aquilo não era um pesadelo. Arrependimentos surgiram, mas a conformação com a nova realidade logo lhe veio.Olhou para o lago, e viu sua imagem refletida. Um corpo novo, vestido em trapos esvoaçantes, nem sempre os seus pés tocavam o chão. Seus olhos brilhantes, cheios de lágrimas, embaçavam sua visão. Talvez não fosse hora de chorar, não depois de tudo. Era estranho acreditar, que mesmo depois de morto, Medonho corria sérios riscos na nova dimensão da floresta, que sempre visitou no mundo dos vivos. Não sabia o bastante sobre o mau que o cercava, só sabia que deveria se proteger de alguma forma.

-Creio que esteja confuso, não é mesmo? - perguntou uma voz feminina.


-Você é novo por aqui, é normal que se sinta assim. Essa floresta já foi mais receptiva, mas as coisas aqui só estao piorando - continuou.


-Quem é você? - perguntou Medonho, tentando encontrar a dona daquela voz pertubadora.

-Invisível para muitos, visível para poucos. Quase ninguem me percebe - disse a suposta mulher com tristeza.


-Mas por que não posso te enxergar? - perguntou Medonho curioso.


-Porque você não vê além do óbvio - respondeu imediatamente - Ninguém me enxerga, porque passam por mim como se eu fosse nada, e eu sempre estou aqui observando a todos.


Medonho se esforçou em cada detalhe e percebeu que entre duas árvores, havia uma sombra escura. E ela tinha forma humana. Longos cabelos negros, um ninho de pássaros na cabeça, pele acinzentada, e estava presa entre as árvores. Galhos e ramos a atravessavam, dando a ela uma aparência assustadora. Sem saber o que dizer, Medonho arregalou os olhos e se manteve calado até que a criatura se manisfestasse.


-Nunca me enxergam. Quando enxergam, fazem sempre a mesma cara - disse com desdém. Mas saiba que só o fato de ter me visto, me deixa menos angustiada - continuou.


-Mas então, co-co-como você ficou presa aí? - Medonho perguntou nervoso.


-Há, eu teria que te contar uma longa história. Mas posso resumir. Eu tinha chegado nesse local pavaroso a pouco tempo, e estava perdida, assustada. Não sabia que essas árvores fossem o que são...


-E o que elas são? - Medonho interrompeu.

-Elas são árvores das trevas, como quase tudo que habita essa floresta. Elas aprisionam almas que não enxergam detalhes. Eu era como você, CEGA, TOLA, NOVATA. Eu passei entre as duas árvores e não vi que era uma armadilha. Aqui, você deve ter muito cuidado. Todos aqui, me chamam de Daqui Você Não Sai. E daqui realmente eu nunca vou sair. Mas tanto faz, já me acostumei a essa prisão.


-Eu realmente lamento muito pelo que te aconteceu. Deve ser difícil ficar assim, tão...tão presa - disse Medonho tentando consolar.


-É, dessa realidade eu nunca escaparei. Mas então, eu sei sobre você. Eu vi você saindo do Lago Gélido quando chegou. Sei que tem muitas dúvidas, e sei que escapou por pouco das Ilusões de Midlon.

-Sim, elas vieram me buscar, mas eu me escondi com meus amigos. Me responde uma coisa? - perguntou Medonho.

-Bem, eu posso tentar - respondeu Daqui Você Não Sai com empolgação.

-O Buraco Negro me contou, que enquanto eu tiver uma energia, não sei ao certo, algo que chama atenção de um tal de..de...

-MARTTÍRIO! É esse o nome dele - Daqui Você Não Sai interrompeu.


-Isso, exatamente. Eu preciso perder essa energia, eu não quero ter uma desventura pior do que esta em que me encontro.


-Bem, Medonho. Pra esse problema existem duas soluções: ou você se acostuma a se esconder e a se proteger, ou você terá que destruir a sua aura. O que chama atenção em você, é a sua aura. Eu também a sinto, muito viva e evidente, como qualquer recém chegado. Ultimamente a maioria dos novatos tem sido aprisionados em Midlon, o que não deve ser nada divertido. Mas aqui existe uma feiticeira, que consegue esconder a sua aura. Eu não sei como ela faz isso. Mas conheço alguns espíritos que hoje, não chamam mais a atenção do Marttírio, e vivem "menos" aflitos , por assim dizer.


-Você não corre nenhum perigo? - Medonhou perguntou intrigado.


-Não, estou presa aqui pra sempre. Não há motivos para o Marttírio se preocupar comigo. Os espíritos tem fugido da Floresta das Sombras.E isso tem deixado o Marttírio cada dia pior. Sempre cruel e egoísta. Depois de se tornar cada dia mais poderoso, ele vem ditando regras por aqui a algum tempo.Alguns o veneram e o ajudam a se manter ereto, intacto.


-Ele não quer que os espíritos vão embora. É isso. Ele quer crescer e dominar a todos? - Medonho perguntou.

-Eu não sei dizer, se é ou não dominar a todos. Isso seria clichê demais, eu diria que ele não quer se sentir só. Ele gosta demais daqui, e muitos tem evitado esse lugar. Aliás, eu creio que existem lugares menos assustadores, para um espírito adormecer. Porém, ele vem se aliando a toda sorte de criaturas más e espíritos que nutrem sentimentos negativos.Eu não sei o que acontece com os espíritos capturados, mas há boatos de que ele tortura, aprisiona, e até te deixa numa espécie de coma após a morte. Se é que me entende.


-Creio que isso tudo, é apavorante demais...- Medonho disse assustado.

Os troncos mal assombrados começaram a acordar naquele momento.Várias criaturas com olhos redondos e amarelos começaram a sair. Todos estavam cochichando, e pareciam desconfiados. Até que viram Medonho, perto das margens do Lago Gélido.


-Pensamos que tinham te levado Medonho. Mais um susto desses e você me paga - resmungou Buraco Negro com todas os outros troncos ao redor.


-Não se preocupe Buraco, elas foram embora - Daqui Você Não Sai tentou acalmá-lo.


-Olá, como anda aí nessa prisão? - perguntou Buraco Negro, se dando conta da presença de Daqui Você Não Sai.


-Ta vendo Medonho? Nunca me percebem - Daqui Você Não Sai riu - Eu estou bem sim, acostumada a muito tempo.


-Que bom, não é mesmo? Acho que está na hora do nosso jantar, a luz do luar está de dar água na boca.

Todos os troncos começaram a sugar a luz para dentro de si. Medonho se aproximou de Daqui Você Não Sai e ficou observando a cena mágica. Alguns vestígios de luz resistiam e soltavam faíscas no ar, outras se espandiam e fugiam apavoradas .Os troncos se dispersavam e brigavam por cada pouquinho de luz que restava. Aos poucos, aquele local da floresta era engolido pela escuridão absoluta.Apenas os olhos brilhantes dos troncos mal assombrados eram vistos nas trevas. Medonho aos poucos se acostumava com aquele novo mundo. Tão assustador e perigoso, mas ao mesmo tempo, tão fascinante e surreal.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

E eu vou com o vento


Pois bem, a vida corre.E quando a gente percebe, já passamos várias páginas da nossa história.Nesses últimos dias aconteceram coisas novas.Eu tive o infortúnio de ser chamado pra um entrevista, passar em todas as provas e no final ser barrado por ter um parente na empresa.Pode?Claro que pode.Coisas da vida.E não adianta querer se matar, ou ficar triste por isso.Isso acontece com todos, com uns mais, outros menos.Mas ninguém consegue tudo de cara.
Tá que eu fiquei meio "down", mas faz parte.A vida é feita dessas coisas, acho que uma hora as coisas passam a ser menos hostis pra mim.E nem adianta tentar dificultar as coisas, eu já tentei, só piora.
A gente vai crescendo e crescendo, de repente nos tornamos um peixe grande, num lago pequeno.
Eu precisaria hoje, de paz, de luz, de uma força divina, algo que me empurre.Tipo, "vai lá garoto, caia no mundo, mostre o que sabe fazer".Eu sei que um dia isso vai acontecer, mais cedo ou mais tarde.Estou a procura disso.
Pois então, minha linda e gorda irmã nasceu.Tão linda, tão saudável.Estou feliz, mais uma irmã.Nossa, diferença de 19 anos e alguns meses.Vou ser um irmão pé-na-cova.Pois então pessoal, outra faculdade me ligou, e eu neguei.Eu não posso fazer nada agora.Eu vou conseguir um emprego, e vou ver que caminhos a vida vai me mostrar.Sempre mostra, eu agora escuto e vejo tudo diante dos meus olhos.Parar e analisar situações, sentir a essência de tudo.A vida te mostra caminhos, conversar com ela me guia.Eu falei do meu relacionamento perdido.A Rachel, ficou meio..."Hã?".Mas é que é assim, embora ela tenha me ligado, embora ela tenha sido doce.Eu sei que nunca será pleno.Eu acho que eu já dei uma chance pra nós dois, não deu.Insistir num erro, só me faria regredir.Eu sei que é difícil entender plenamente isso.Mas é assim, eu acho que relacionamentos conturbados, difícilmente se tornam normais.Embora eu a ame, eu sei que eu não vou ser correspondido da maneira que eu gostaria.
E por mais que ela pareça arrependida, eu sei que ela não voltaria atrás, o orgulho a corrói por dentro.Eu já joguei no vento meu orgulho uma vez, fiz sem medo de ser feliz.Acho que agora não tem mais o que fazer.Eu me abtuei, eu já sei lidar com perdas, eu já me acostumei em estar só.Digo sem contato, sem carinho.Eu tenho uma grande qualidade, eu me acostumo em qualquer ambiente, mesmo que eu coma o pão que o diabo amassou.Quando a gente ama alguém e se acostuma com a falta, o amor adormece.O meu adormeceu.E eu não pretendo acordá-lo.
Enfim, chega de falar disso, não é mesmo?Eu coloquei um piercing.Há, eu não tinha nada pra fazer, daí aproveitei o dia e fiz.Furei a sobrancelha.Embora, alguns não gostem, EU GOSTO.
Ha ficou bacana, gostei da jóia, gostei do resultado.E assim eu vou me fazendo bem.Se não eu caio dentro de um túmulo, e isso eu deixo pra mais tarde.Depois de uns 80 anos....

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

9 meses depois

Eu ouço grilos cantando lá embaixo, e olha que eu estou no terceiro andar.Eu sinto que a noite hoje vai ser super abafada.Pois então, nesses últimos dias me aconteceram algumas coisas.Coisas boas?Bem, depende do ponto de vista.
Pois bem, alguns já ouviram meus lamentos, e sabem que eu já falei de uma ex. Então, essa semana eu fui dormir super aguniado de saudades, um aperto no peito. Deitei dramaticamente na minha cama(risos). Abracei meu travesseiro, curti minha foça um pouquinho pensando nela. E adivinhem. Meu celular começou a tocar, ele estava do lado da minha cama, numa mesinha. Daí o número não era dela, mas eu já sabia que era ela. Eram umas 24:40, e ela atendeu o telefone com a voz alterada, tentando me passar um trote. Pode? Enfim, eu sei que ela riu e se revelou. Do nada a voz dela se tornou doce e meiga. Eu não imaginava como seria ouvir a voz dela depois de 9 meses. Eu fiquei nervoso ao extremo, eu tremia segurando o celular. O coração na boca. Me contou sobre a vida dela, me perguntou se eu ainda estava só, me perguntou se eu ainda guardava as cartas, os presentes, me perguntou sobre uma outra garota que eu namorei...e perguntando e perguntando.Eu disse: "CHEGA! Não quero falar sobre isso com você".
Me contou que esteve no parque, que a gente frequentava, no shopping, e passou na frente ao prédio em que eu morei durante um tempo. Sentindo saudades, dizendo que não consegue não lembrar de mim.
Eu percebi um certo arrependimento, sei lá, algo ainda vive dentro dela. Eu já sabia disso, mas isso não me comove, não mais. Isso não muda a minha vida. Embora eu sinta por ela algo imenso. Eu espero pra ver se ela amadurece, pra ver se um dia ela vai cair em si. Ela disse que imaginava como estaria a minha mente, e eu disse que está igual a dela. Ela perguntou surpresa: "será?".
Eu sei que no final de tudo pessoal, ela ainda se despediu com as palavras: "um beijo no seu coração". Aquilo parece que me amoleceu, me deixou impressionado. A doçura, a forma como ela falava, parecia que era sincero, e eu percebo o quanto eu sou importante pra ela. Mas depois de tudo, eu sinceramente não sei nem o que pensar. Eu acredito que a gente deve dar valor as pessoas, enquanto elas estão ali, do seu lado. Depois que perde, não faz sentido.
Sei lá, hoje, ela não me vem mais como algo concreto, físico. Parece uma lembrança, algo que eu não posso mais alcançar. É estranha essa sensação, é mórbida. É semelhante ao que você sente quando alguém querido morre. Eu acho que eu nunca mais vou vê-la, nunca mais vou tocá-la, e o nunca mais desce seco na garganta. É como o nunca mais que vem depois da morte.
Bem , eu sei que eu posso estar redondamente enganado, eu não sei o dia de amanhã, e o mundo dá voltas. É só o que eu sinto no momento.