quinta-feira, 17 de setembro de 2009

MEDONHO


"Meu nome é Sophia Forbullesca. Era noite quando eu o vi pela primeira vez na cidade de Neffesturian. Misterioso, esquisito...desses que a escola inteira evita. Sempre usando um capuz lhe cobrindo a cabeça, os seus olhos profundos e com olheiras que evidenciam que ele não dorme bem há anos. Eu sinceramente jamais tive coragem de sentar do lado dele durantes as aulas, principalmente nas de educação artística. Sim, era nas aulas de artes que ele mais me assustava. Com aqueles olhos estranhos, sussurrando palavras enquanto rabiscava no papel. Mas foi na aula de Biologia que eu tive coragem de pronunciar um simples "Oi". Ele lançou um olhar fulminante para mim, seus olhos eram dotados de algo que eu não sei explicar. Me arrependi no mesmo momento, girei nos calcanhares e saí perturbada pelos corredores. Eu também não era muito aceita na escola, assim como ele era isolada e excepcional, porém eu lutava contra meu péssimo hábito de falar com borboletas, pássaros e todas as criaturas aladas que se possa imaginar. Uma vez eu estava no intervalo lendo um livro, quando várias borboletas me cercaram alvoroçadas. Então eu disse à elas que as sálvias já haviam desabroxado no jardim da praça. Em seguida saíram todas voando em disparada. A escola inteira me evita desde então e pensam que me insultam me chamando de borboletário. Ainda bem que os pássaros são mais discretos quando querem falar comigo, graças a eles eu comecei a entendê-lo..."( Sophia )


"Em casa eu vivo a maior parte do tempo dentro do meu quarto, ouvindo música, desenhando ou criando qualquer coisa. Minha irmã, a Doroti, insiste em atrair problemas para mim. A última vez que ela caiu quando eu estava limpando o piso da cozinha, me rendeu dois murros do meu padastro. Sim, o meu padastro frequentemente me ameaça e me espanca. Minha mãe está sempre ocupada num ateliê de costura e nunca fez nada realmente plausível para me defender. Então eu aprendi a me cuidar sozinho. Há muito tempo eu planejo me livrar de tudo isso e ser livre em algum lugar, e esse lugar definitivamente é a Floresta das Sombras. Ela é uma floresta que fica nas redondezas. Eu sei que nela vivem as almas que cometem suicídio e nela existe um mundo paralelo realmente incrível. Porém eu teria que por um fim nesse meu projeto de vida. Meu padastro insiste que eu devo ser internado num hospício. Sou obrigado a fazer todos os afazeres domésticos enquanto minha mãe dá duro no ateliê. Uma vez eu pedi pra ela que fizesse um casaco que eu havia desenhado, e então ela fez e me deu de presente no dia do meu aniversário. Embora minha mãe fosse ausente, eu sinto que no fundo ela tinha um pingo de compaixão.
Eu gosto tanto desse casaco, ele possui um capuz que deixa meu rosto oculto na escuridão. Durante todo o ano letivo eu dediquei as aulas de educação artística ao meu incrível plano suícida, as pessoas nunca me entendem. A professora apavorada sempre chama minha mãe para uma conversa, mas ela nunca foi em uma reunião escolar, eu nunca tive a glória de ver o meu boletim. Na escola todos me chamam de Medondo. "Olhem, o Medonho está chegando...Cuidado! O Medonho está te encarando..." Coisas do tipo, na verdade isso nunca me aborrece, aliás adoro esse pseudônimo que as pessoas usam para se referir a minha pessoa. Meu nome verdadeiro é Petrônio Dongarttês e só minha mãe me chama assim..."Petrônio vai lavar a louça. Petrônio vai dar banho em sua irmã". Eu sei que meu plano foi interrompindo, desde que aquela garota infernal passou a pedir para os pássaros roubarem os meus rascunhos fúnebres. Ela pensa que eu não sei..." ( Medonho)

"A Floresta das Sombras é um ASSOMBRO e eu adoro quando os corvos me convidam para conhecer seus mistérios..." ( Sophia )


"Eu sei que escuto vozes quando caminho por entre as folhas secas. Eu só preciso fazer uma conexão...eu não consigo entender a linguagem desse livro..."
( Medonho )



OBS: São fragmentos do conto que eu escrevo e ilustro. Essa estória martela na minha cabeça há um bom tempo. Então de tempos em tempos eu acrescento algo e modifico tentando melhorá-la. Reúne tudo aquilo que eu admiro na literatura, no cinema e na arte em geral. É tudo sombrio, misterioso, dramático e repleto de aventuras fantásticas.

3 comentários:

Stephanie C. de Mello disse...

Nossa vc é muito talentoso! Adorei a ilustração, que por sinal é fantástica! E a história.. muito legal. Você aguçou minha curiosidade em relação ao Medonho e a Sarah. Continue! hehe :)

Abçs

Laarylee disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Laarylee disse...

Nossa Lorde...além de vc ser um excelente desenhista é também um ótimo escritor...Adorei esse seu conto...totalmente magnífico